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"Santola em Neves" |
Quando decidi viajar novamente para São Tomé e Príncipe
(STP) houve algumas amigas que me perguntaram “e vais voltar a escrever no teu
blogue?”. Existem momentos para tudo e a escrita para mim em STP significou
mais do que o registo dos acontecimentos, levou a uma viagem interior que
culminou num bem-estar geral, no fundo devolveu-me a felicidade que durante uns
tempos julguei perdida. Assim pensei “vou escrever se sentir essa necessidade
ou então não!”.
Não escrevi durante os 15 dias da minha estadia pois nao senti essa necessidade, encontrava-me feliz, mas hoje
quando me encontrava no aeroporto senti que tinha novamente vontade de registar
alguns momentos, emoções e histórias que vivi simplesmente porque era importante
partilhá-las.
Deixei STP em janeiro e volto passado 7 meses. Chego num voo
da São Tomé Airways desta feita atrasado 4 horas por razões desconhecidas dos
passageiros, mas pelo que venho a saber na cidade (boato não confirmado) porque
um alto dignatário daquele país decidiu fazer compras de última hora num centro
comercial de Lisboa e por isso cerca de 150 pessoas esperaram por ele no
aeroporto de Lisboa…
Quando finalmente aterro em São Tomé espera-me aquele
movimento da cidade, enfim na verdade tal como Nova Iorque venho mesmo a
perceber que São Tomé é a cidade que nunca dorme…a vida nunca se esgota no
centro, mudam um pouco os cenários: as paredes das lojas e dos dois mercados ao
ar livre têm expostas para venda as fardas dos meninos para o ano letivo que se
aproxima, há resmas de cadernos e mochilas da China e Nigéria espalhadas pelo
chão e pelas bancas dos mercados.
Mercado novo |
Exterior mercado novo |
Nesta altura já não cheira a jaca (aquele fruto que relatei
na viagem anterior), o calor suporta-se bem e agora vive-se a gravana, a
estação mais seca, enfim o verão sem aquela humidade e mosquitos que me
obrigavam a dois banhos diários e ao “previ- pique” a toda a hora (o grande
inimigo dos mosquitos).
Regressei ao Bairro de STP onde ainda se encontrava o meu
irmão e a sua família de férias, onde a “nossa” Elsa (são-tomense)
ultrapassados os receios da minha primeira vinda, me recebeu com um calulu
delicioso e me explicou que a sua preparação já vinha de véspera (não faltaram
as 20 ervas e especiarias de que é composto o prato) e o peixinho que de tão
rijo faz lembrar febras de frango.
Elsa |
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Calulu |
Depois foi reviver muito da cidade acompanhada por 2 livros.
O primeiro, aconselhado para férias numa revista de informação semanal
intitulava-se “A rapariga que sabia demais”. Meus amigos, aconselharem um livro
de zombies para as férias? Mas estes críticos estão loucos? Sim, li o livro…
não havia muitas alternativas, aprecei um livro da Isabel Allende no
supermercado, 950.000 dobras (aproximadamente 40 euros) …nem pensar. O segundo
livro tratou-se de uma releitura o “Equador” do Miguel Sousa Tavares. E que bem
que fiz em trazê-lo. Sempre gostei de ler os livros nos sítios onde se passa a
ação e este livro é imprescindível lê-lo na linha do Equador.
Quem já leu o Equador sabe que se trata de um romance
passado no inicio do sec. XX que retrata os problemas político-económicos
relativos ao comércio do cacau e da existência de escravatura nas roças. Ler
este livro debaixo de uma varanda acompanhada de um gin tónico, tal qual o Luís
Bernardo (herói do romance) é uma experiencia para ficar para a vida, ainda
mais porque envolvida pelas histórias fui visitar as roças que ainda não tinha
visitado “Boa Esperança”, “Monte Café” e “Diogo Vaz”.
Roça Boa Esperança |
A “Boa Esperança” considerada muito avançada nas questões
sociais para a época, tem um edifício central, suponho que o palácio do
proprietário, lindo de morrer. Ainda se vê uma torre central toda envidraçada,
ainda que já apedrejada, onde se veem estendais de roupa pela escadaria
central.
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Roça Monte Café |
A “Monte Café” que fica muito próxima da capital, segundo me disseram, será novamente reativado por uma empresa belga/francesa. Tive oportunidade de beber um café na roça, debruçada num primeiro andar com vista para a cidade, imperdivel...
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Roça Monte Café |
Se vierem a São Tomé passem por lá, servem refeições, num espaço todo decorado com panos africanos que associados à vista, são um regalo para os olhos.
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"Hospital" da Roça Diogo Vaz |
Da “Diogo Vaz” trago uma história para contar. Passeámos
pela roça, visitámos o imponente hospital, atual e parcialmente ocupado por uma
escola/creche e no caminho para Santa Catarina demos boleia a um jovem morador
na roça.Achando curioso a existência de tantos secadores carregadinhos de
cacau lá dentro (que bom que é), perguntei ao jovem que empresa era aquela que
trazia tanta prosperidade para o local. Trata-se de
uma empresa camaronesa, que paga 1.200.000 dobras/mês (cerca de 48 €) aos
trabalhadores, tendo eles por missão trabalhar uma porção de terra ao dia. Não
fornecem os machins (as catanas que são os instrumentos de trabalho), sendo que
se os fornecerem descontam 100.000 dobras ao trabalhador, não têm seguro e por
isso quando alguém tem o azar de cortar o pé com a catana, azarzinho, nem o
levam ao hospital e ainda lhe descontam o dia/dias. No final da conversa com o
jovem que dizia que os camaroneses rapam a madeira, levam todo o cacau e não
investem em infraestruturas para a roça/aldeia, perguntámo-nos, “mas isto não é
escravatura?”. Onde estão os governos da civilização que se faziam anunciar no
inicio do séc. XX? Quem compra este cacau?
Praia Piscina |
Ultrapassando a questão das
roças, não poderia deixar de falar novamente nas praias, revisitei a praia
piscina, a lagoa azul e os tamarindos, ou seja, aquelas que considerei as mais
bonitas da ilha: a primeira pela beleza e isolamento, a segunda para o mergulho
e a dos tamarindos pela oportunidade de um piquenique à beira-mar.
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Lagoa Azul |
Meninos de Neves |
Nesta visita a STP também estava
quase claro que pernoitaria no Mucumbli…as razões já as expus num post algures
em Janeiro, mas desta vez houve um bónus: desci pela ravina até à praia onde
estavam os meninos de Neves.
Meninos de Neves |
Na verdade estava uma turma de meninos que tinham vindo passar o dia à praia, eles e uma panela de arroz com feijão e búzios da terra, que mais uma vez me vieram oferecer com uma generosidade difícil de encontrar em muitos lugares do mundo. Continuo a acreditar que tenham incluído São Tomé e Príncipe no ranking dos países mais felizes do mundo, a felicidade deste povo está sempre presente, são gentis, simpáticos e generosos. E a felicidade também está na partilha.
Não
posso deixar de fechar este post sem prestar uma pequena homenagem aos portugueses
que vivem na ilha. A sua motivação para saírem de Portugal prende-se
fundamentalmente com o desencanto no nosso país, que não lhes criou
oportunidade para desenvolverem as suas competências, pessoal jovem, interessante e aventureiro que abandona
o conforto das vidas ocidentais para “mergulhar” na ilha de cabeça, com algumas
adversidades pelo meio, mas que pouco a pouco vão criando lugares ao sol.
Por
último, uma homenagem ao meu companheiro de vida que ao fim de vinte anos de
vida em comum me conseguiu surpreender pela sua capacidade de adaptação, pelo
respeito que nutre por este povo e pela aceitação de valores e filosofia de
vida de São Tomé e Príncipe. Em nome dos portugueses (pelo menos a tua família e
amigos) obrigada por nos representares tão bem em São Tomé e Príncipe.
Meu nome é Emilio , eu sou um menino espanhol e moro em uma cidade perto de Madrid. Eu sou uma pessoa muito interessada em saber coisas tão diferentes como a cultura , o modo de vida dos habitantes de nosso planeta, a fauna , a flora e as paisagens de todos os países do mundo, etc, em resumo, eu sou uma pessoa que gosta de viajar , aprendendo e respeitando a diversidade das pessoas de todo o mundo.
ResponderEliminarEu adoro viajar e conhecer pessoalmente todos os aspectos acima mencionados, mas, infelizmente, como isto é muito caro e meu poder de compra é muito pequena , por isso desenvolveram uma forma de viajar com a imaginação em todos os cantos do nosso planeta. Alguns anos atrás eu comecei uma coleção de selos usados , porque através deles, você pode ver fotos sobre a fauna, a flora , monumentos, paisagens, etc de todos os países . Como todo dia é cada vez mais difícil conseguir selos , alguns anos atrás eu comecei uma nova coleção , a fim de receber cartas tradicionais que me dirigiu em que o meu objetivo era fazer com que pelo menos uma carta de cada país no mundo. Este objetivo modesto é viável para chegar na maior parte dos países , mas, infelizmente , é impossível de conseguir em outros territórios , por diversas razões , ou porque eles são muito pequenos países com poucos população , ou porque são países em guerra , ou porque são países com pobreza extrema , ou porque por algum motivo o sistema postal não está funcionando corretamente .
Por tudo isso, eu gostaria de lhe pedir um pequeno favor:
Estaria a gentileza de me enviar uma carta por correio tradicional de Sao Tome? Eu entendo perfeitamente que você acha que seu blog não é o lugar apropriado para pedir isso, e até mesmo , é muito provável que você ignore a minha carta , mas eu gostaria de chamar sua atenção para a dificuldade na obtenção de uma carta daquele país, e também Eu não conheço ninguém nem onde escrever em Sao Tome , a fim de aumentar a minha coleção. uma carta para mim é como uma pequena lembrança , como se eu já tinha visitado esse território com a minha imaginação e ao mesmo tempo , a chegada das cartas de um país é um sinal de paz e normalidade e uma maneira original de promover um país em o mundo . Meu endereço postal é o seguinte :
Emilio Fernandez Esteban
Avenida Juan de la Cierva , 44
28902 Getafe ( Madrid)
Espanha
Se desejar, você pode visitar o meu blog www.cartasenmibuzon.blogspot.com onde você pode ver as imagens de todas as cartas que tenho recebido de todo mundo .
Finalmente, eu gostaria de agradecer a atenção dada a esta carta, e se você pode me ajudar ou não, eu enviar os meus melhores votos de paz , saúde e felicidade para você , sua família e todos os seus entes queridos .
sinceramente seu
Emilio Fernandez