domingo, 25 de setembro de 2016

De volta a São Tomé e Príncipe...

O
"Santola em Neves"
Quando decidi viajar novamente para São Tomé e Príncipe (STP) houve algumas amigas que me perguntaram “e vais voltar a escrever no teu blogue?”. Existem momentos para tudo e a escrita para mim em STP significou mais do que o registo dos acontecimentos, levou a uma viagem interior que culminou num bem-estar geral, no fundo devolveu-me a felicidade que durante uns tempos julguei perdida. Assim pensei “vou escrever se sentir essa necessidade ou então não!”.

Não escrevi durante os 15 dias da minha estadia pois nao senti essa necessidade, encontrava-me feliz, mas hoje quando me encontrava no aeroporto senti que tinha novamente vontade de registar alguns momentos, emoções e histórias que vivi simplesmente porque era importante partilhá-las.

Deixei STP em janeiro e volto passado 7 meses. Chego num voo da São Tomé Airways desta feita atrasado 4 horas por razões desconhecidas dos passageiros, mas pelo que venho a saber na cidade (boato não confirmado) porque um alto dignatário daquele país decidiu fazer compras de última hora num centro comercial de Lisboa e por isso cerca de 150 pessoas esperaram por ele no aeroporto de Lisboa…


Quando finalmente aterro em São Tomé espera-me aquele movimento da cidade, enfim na verdade tal como Nova Iorque venho mesmo a perceber que São Tomé é a cidade que nunca dorme…a vida nunca se esgota no centro, mudam um pouco os cenários: as paredes das lojas e dos dois mercados ao ar livre têm expostas para venda as fardas dos meninos para o ano letivo que se aproxima, há resmas de cadernos e mochilas da China e Nigéria espalhadas pelo chão e pelas bancas dos mercados.

Mercado novo
Exterior mercado novo

Nesta altura já não cheira a jaca (aquele fruto que relatei na viagem anterior), o calor suporta-se bem e agora vive-se a gravana, a estação mais seca, enfim o verão sem aquela humidade e mosquitos que me obrigavam a dois banhos diários e ao “previ- pique” a toda a hora (o grande inimigo dos mosquitos).


Regressei ao Bairro de STP onde ainda se encontrava o meu irmão e a sua família de férias, onde a “nossa” Elsa (são-tomense) ultrapassados os receios da minha primeira vinda, me recebeu com um calulu delicioso e me explicou que a sua preparação já vinha de véspera (não faltaram as 20 ervas e especiarias de que é composto o prato) e o peixinho que de tão rijo faz lembrar febras de frango. 


 A surpresa veio ainda no momento da sobremesa, quando nos apresenta aquele pudim de coco, aquela maravilha das ilhas do equador.


Elsa

Calulu
















Depois foi reviver muito da cidade acompanhada por 2 livros. O primeiro, aconselhado para férias numa revista de informação semanal intitulava-se “A rapariga que sabia demais”. Meus amigos, aconselharem um livro de zombies para as férias? Mas estes críticos estão loucos? Sim, li o livro… não havia muitas alternativas, aprecei um livro da Isabel Allende no supermercado, 950.000 dobras (aproximadamente 40 euros) …nem pensar. O segundo livro tratou-se de uma releitura o “Equador” do Miguel Sousa Tavares. E que bem que fiz em trazê-lo. Sempre gostei de ler os livros nos sítios onde se passa a ação e este livro é imprescindível lê-lo na linha do Equador.

Quem já leu o Equador sabe que se trata de um romance passado no inicio do sec. XX que retrata os problemas político-económicos relativos ao comércio do cacau e da existência de escravatura nas roças. Ler este livro debaixo de uma varanda acompanhada de um gin tónico, tal qual o Luís Bernardo (herói do romance) é uma experiencia para ficar para a vida, ainda mais porque envolvida pelas histórias fui visitar as roças que ainda não tinha visitado “Boa Esperança”, “Monte Café” e “Diogo Vaz”.
Roça Boa Esperança

A “Boa Esperança” considerada muito avançada nas questões sociais para a época, tem um edifício central, suponho que o palácio do proprietário, lindo de morrer. Ainda se vê uma torre central toda envidraçada, ainda que já apedrejada, onde se veem estendais de roupa pela escadaria central. 
Passeei pelas senzalas, onde atualmente residem muitas famílias e onde uma simpática são-tomense me veio oferecer num alguidar já cozinhados, búzios da terra (completamente envolvidos no picante “boca do inferno”).

Roça Monte Café
A “Monte Café” que fica muito próxima da capital, segundo me disseram, será novamente reativado por uma empresa belga/francesa. Tive oportunidade de beber um café na roça, debruçada num primeiro andar com vista para a cidade, imperdivel...
Roça Monte Café


Se vierem a São Tomé passem por lá, servem refeições, num espaço todo decorado com panos africanos que associados à vista, são um regalo para os olhos.







"Hospital" da Roça Diogo Vaz
Da “Diogo Vaz” trago uma história para contar. Passeámos pela roça, visitámos o imponente hospital, atual e parcialmente ocupado por uma escola/creche e no caminho para Santa Catarina demos boleia a um jovem morador na roça.Achando curioso a existência de tantos secadores carregadinhos de cacau lá dentro (que bom que é), perguntei ao jovem que empresa era aquela que trazia tanta prosperidade para o local. Trata-se de uma empresa camaronesa, que paga 1.200.000 dobras/mês (cerca de 48 €) aos trabalhadores, tendo eles por missão trabalhar uma porção de terra ao dia. Não fornecem os machins (as catanas que são os instrumentos de trabalho), sendo que se os fornecerem descontam 100.000 dobras ao trabalhador, não têm seguro e por isso quando alguém tem o azar de cortar o pé com a catana, azarzinho, nem o levam ao hospital e ainda lhe descontam o dia/dias. No final da conversa com o jovem que dizia que os camaroneses rapam a madeira, levam todo o cacau e não investem em infraestruturas para a roça/aldeia, perguntámo-nos, “mas isto não é escravatura?”. Onde estão os governos da civilização que se faziam anunciar no inicio do séc. XX? Quem compra este cacau?

Praia Piscina
Ultrapassando a questão das roças, não poderia deixar de falar novamente nas praias, revisitei a praia piscina, a lagoa azul e os tamarindos, ou seja, aquelas que considerei as mais bonitas da ilha: a primeira pela beleza e isolamento, a segunda para o mergulho e a dos tamarindos pela oportunidade de um piquenique à beira-mar.
Lagoa Azul
Sobre a vinda a São Tomé não posso deixar de recomendar aos meus compatriotas que a façam durante o nosso Inverno, pois durante o nosso verão temos tanto ou mais calor do que em STP, no entanto porque adoro praia se eu vivesse nesta ilha certamente aproveitaria todo o ano para o fazer

Meninos de Neves
Nesta visita a STP também estava quase claro que pernoitaria no Mucumbli…as razões já as expus num post algures em Janeiro, mas desta vez houve um bónus: desci pela ravina até à praia onde estavam os meninos de Neves.
Meninos de Neves


Na verdade estava uma turma de meninos que tinham vindo passar o dia à praia, eles e uma panela de arroz com feijão e búzios da terra, que mais uma vez me vieram oferecer com uma generosidade difícil de encontrar em muitos lugares do mundo. Continuo a acreditar que tenham incluído São Tomé e Príncipe no ranking dos países mais felizes do mundo, a felicidade deste povo está sempre presente, são gentis, simpáticos e generosos. E a felicidade também está na partilha.

Não posso deixar de fechar este post sem prestar uma pequena homenagem aos portugueses que vivem na ilha. A sua motivação para saírem de Portugal prende-se fundamentalmente com o desencanto no nosso país, que não lhes criou oportunidade para desenvolverem as suas competências, pessoal jovem, interessante e aventureiro que abandona o conforto das vidas ocidentais para “mergulhar” na ilha de cabeça, com algumas adversidades pelo meio, mas que pouco a pouco vão criando lugares ao sol.

Por último, uma homenagem ao meu companheiro de vida que ao fim de vinte anos de vida em comum me conseguiu surpreender pela sua capacidade de adaptação, pelo respeito que nutre por este povo e pela aceitação de valores e filosofia de vida de São Tomé e Príncipe. Em nome dos portugueses (pelo menos a tua família e amigos) obrigada por nos representares tão bem em São Tomé e Príncipe.


1 comentário:

  1. Meu nome é Emilio , eu sou um menino espanhol e moro em uma cidade perto de Madrid. Eu sou uma pessoa muito interessada em saber coisas tão diferentes como a cultura , o modo de vida dos habitantes de nosso planeta, a fauna , a flora e as paisagens de todos os países do mundo, etc, em resumo, eu sou uma pessoa que gosta de viajar , aprendendo e respeitando a diversidade das pessoas de todo o mundo.

    Eu adoro viajar e conhecer pessoalmente todos os aspectos acima mencionados, mas, infelizmente, como isto é muito caro e meu poder de compra é muito pequena , por isso desenvolveram uma forma de viajar com a imaginação em todos os cantos do nosso planeta. Alguns anos atrás eu comecei uma coleção de selos usados ​​, porque através deles, você pode ver fotos sobre a fauna, a flora , monumentos, paisagens, etc de todos os países . Como todo dia é cada vez mais difícil conseguir selos , alguns anos atrás eu comecei uma nova coleção , a fim de receber cartas tradicionais que me dirigiu em que o meu objetivo era fazer com que pelo menos uma carta de cada país no mundo. Este objetivo modesto é viável para chegar na maior parte dos países , mas, infelizmente , é impossível de conseguir em outros territórios , por diversas razões , ou porque eles são muito pequenos países com poucos população , ou porque são países em guerra , ou porque são países com pobreza extrema , ou porque por algum motivo o sistema postal não está funcionando corretamente .

    Por tudo isso, eu gostaria de lhe pedir um pequeno favor:
    Estaria a gentileza de me enviar uma carta por correio tradicional de Sao Tome? Eu entendo perfeitamente que você acha que seu blog não é o lugar apropriado para pedir isso, e até mesmo , é muito provável que você ignore a minha carta , mas eu gostaria de chamar sua atenção para a dificuldade na obtenção de uma carta daquele país, e também Eu não conheço ninguém nem onde escrever em Sao Tome , a fim de aumentar a minha coleção. uma carta para mim é como uma pequena lembrança , como se eu já tinha visitado esse território com a minha imaginação e ao mesmo tempo , a chegada das cartas de um país é um sinal de paz e normalidade e uma maneira original de promover um país em o mundo . Meu endereço postal é o seguinte :

    Emilio Fernandez Esteban
    Avenida Juan de la Cierva , 44
    28902 Getafe ( Madrid)
    Espanha

    Se desejar, você pode visitar o meu blog www.cartasenmibuzon.blogspot.com onde você pode ver as imagens de todas as cartas que tenho recebido de todo mundo .

    Finalmente, eu gostaria de agradecer a atenção dada a esta carta, e se você pode me ajudar ou não, eu enviar os meus melhores votos de paz , saúde e felicidade para você , sua família e todos os seus entes queridos .

    sinceramente seu

    Emilio Fernandez

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