quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Bom Ano e Boas Viagens

No ultimo post do ano de 2015, deixo-vos com uma seleçao de fotos do que mais bonito há em STP. 

Um 2016 repleto de coisas boas e quiça uma viagem a STP.








quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Peixes e pescarias em STP

Há uma atividade que dá sustento a muita boa gente em STP e senão dá sustento pelo menos sustenta já que há falta da carnuxa substitui-se pela proteína do peixe facilmente pescado pela generalidade do povo.

Em STP há uma variedade e frescura de peixe que já não deve haver em muitos lugares do mundo. 
A primeira pergunta que se impõe é como se pesca o peixe em STP. 

Acho que grande parte do peixe é pescado nas canoas que ainda são as principais embarcações da ilha ( tal e qual como faziam há 500 anos atrás, embora algumas já tenham motor).



Numa ida ao Norte parámos à beira da estrada para eu meter conversa com um senhor construtor de canoas que la me explicou que as fazia em 15 dias de uma árvore que se chama obô, trata-se de uma coisa tão simples como escavacar o tronco da árvore com uma machadinha.




Existem canoas mais sofisticadas com velas feitas de sacos de plástico gigantes em que os pescadores atiram as suas redes ao mar tal como está retratado em baixo.


Existem ainda pescadores que usam arpões ao estilo mais arcaico, mas que ainda assim surtem grandes resultados. 



Muitos usam óculos e tubos de mergulho que conjugados com os arpoes obtêm ainda mais pescado.


O pescador em baixo que encontrámos junto à Lagoa Azul  tinha acabado de apanhar polvo, choco e moreia. Os bichos dentro da piroga ainda se remexiam e deram um espetáculo de luz e cor as tugas mais novas e a mais velha também.





Ainda no caminho para Santa Catarina antes de passarmos o túnel que fura a montanha encontrámos ainda outro pescador com um peixe balão a que estupidamente perguntei se aquele peixe se comia
 (acho que só conhecia o peixe do Nemo e os dos aquários são tão pequeninos e este era enorme e assustador). Fora isso e sem falsas modéstias acho que esta foto está digna de figurar numa revista Volta ao Mundo.





A atividade piscatória está de tal modo enraizada que mesmos os meninos mais novos estão com um fio com anzol a pescar em cima de uma pedra em plena capital, aqui tirei a foto a um que tinha acabado de pescar um chim chim ( a Laura diz que este nome de peixe é fácil de decorar).




Na cidade também podemos comprar o peixe na Baía Ana Chaves, as peixeiras que estão no Cruzamento das Jacas ( nome dado por nossos amigos a viver cá) e fazem um festim a quem passa. O peixe compra-se (assim como a generalidade da fruta)  a olho ou melhor aos conjuntos e não ao KG (por ex. por 4 iguais aos debaixo pagámos 250.000 dobras =10 €).




Se porventura tiverem a felicidade de se instalarem por mais tempo em São Tomé também podem telefonar diretamente ao pescador que vos leva o peixinho/marisco a casa e ainda vos arranja o peixe.
Percebem agora porque é que cá em casa já só comemos peixe??? Bom apetite!


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A Escrava Isaura e as Roças de STP - I Parte



Quem cresceu na minha geração a ver as novelas da Escrava Isaura, nunca poderá ficar indiferente à visita a uma Roça. As roças de São Tomé têm a mesma inspiração das brasileiras já que os seus primeiros proprietários vieram de lá.




O estado de alma ao chegar às grandes Roças como a Roça Rio do Ouro, Diogo Vaz ou Agua Izé é de orgulho perdido, perante a grandiosidade dos edifícios construídos que agora após a nacionalização das Roças se encontram em total abandono. 

Neste post dedicarei o desenvolvimento à Roça Rio de Ouro (segunda maior da Ilha a seguir à Agua Izé) para fazer uma II Parte dedicada às Roças Diogo Vaz, Porto Alegre e Agua Izé.


Por vezes, tento imaginar o que seria uma roça a funcionar no inicio do sec. XX, o movimento destas unidades muito próximo a autenticas cidades: com escolas, creches, hospitais, capelas.


Nestas grandes, chegaram a trabalhar 2 a 3 mil serviçais ( distribuídos pelas várias construções). 
Em todas elas ainda conseguimos identificar, a casa da administração, as casas dos encarregados, as senzalas, o terreiro, armazéns e oficinas e ainda os cais de embarque para o escoamento do cacau e do café.




O mais impressionante é a escala, é tudo à grande


Imagem aérea da Roça Rio de Ouro (atual Agostinho Neto)
Atualmente estes edifícios na sua grande maioria estão entregues à sua sorte, nas janelas e portas das casas grandes vêem-se famílias, muitas ( dá ideia que em cada quarto vive uma família), o estado das roças é de degradação. 
Antiga senzala (construida na lateral da Roça), agora acrescentaram-lhe as barracas à frente

Antiga Casa da Administração, ocupada por muitas famílias
Tudo se faz com agua trazida do chafariz e a luz vem principalmente dos candeeiros a petróleo do tempo dos nossos avós. 
Casas dos encarregados das Roças, agora habitações multifamiliares


Não resisti a espreitar o que estaria por detrás destas casas e a vista destas varandas é impressionante.



Vista das varandas das Casas dos Encarregados
Outro sinal de que nas roças houve grande desenvolvimento são os vestígios das linhas de caminho de ferro já que em 1910 havia 250 km construídos , hoje em dia servem de poleiro às galinhas e muitos carris já foram arrancados quiçá para improvisar alguma geringonça.



Há muitas formas de fazer a leitura do que eram as Roças no período da colonizaçao, se por um lado STP vivia grande prosperidade aproveitando exaustivamente os recursos naturais da ilha mas também construindo as tais escolas e hospitais, por outro lado também nao fico indiferente às histórias da Elsa, natural de STP, que me contava que a avó era posta no tronco e ali ficava durante toda à noite porque se dava ao "luxo" de descansar...




Mais uma vez a visita as roças é feita com os pequenos guias, na Rio de Ouro atual Agostinho Neto, ao perguntar a um menino quem me podia ajudar na visita ele respondeu "EU" e assim foi, ele e mais 20.



À Porta do Palácio da Isabel dos Santos
Nesta Roça que fica a norte da capital e que ja foi a segunda maior do país é impressionante a avenida que liga em extremos opostos o Hospital e o Palácio.





O Palácio foi adquirido pela Unitel/ Isabel dos Santos, foi recuperado e neste momento serve a cerimónias como casamentos ou grandes receções.

Nao há grandes muros a separá- lo da população que por ali vive, mas basta um guarda para intimidar a criançada. Foi neste palácio que vimos o organograma da Roça e tivemos oportunidade de passear pelo jardim muito bem cuidado.





Aqui os nossos amigos à procura das tartarugas
 A curiosidade maior do Jardim é a planta " não me toque", já que basta tocar-lhe para ela murchar no segundo seguinte.


Ao fundo da avenida o hospital com uma dimensão que impressiona. Quem acompanhou a "evolução/degradação" desta Roça disse-me que após a independência roubaram todo o telhado do hospital, depois veio a Cooperação Portuguesa e tornaram a cobri-lo, depois veio a Cooperação Alemã, por fim  todos abandonaram o local (não sei porquê mas é triste).




O muito antes e o agora






Deixo-vos com a última imagem que tirei da Roça o Hospital que reflete o sentimento que senti de abandono e tristeza na visita à Roça, o tal orgulho perdido...


Fim da Parte I...continua