Já referi neste blogue que crianças em STP são mato, aparecem em pequenos e grandes grupos fardadas de azul, porque andamos nas ruas da capital onde se concentram todos os níveis de ensino do Jardim de Infância a Universidade. Meninos pequeninos a partir dos 4/5 anos circulam de mão dada nas ruas, aos saltinhos no meio das poças da agua, da escola para casa. Aqui a hiperproteção que assistimos no mundo ocidental não existe (eu imagino o que acontece quando este povo emigra para Lisboa e percebe que os meninos já não vão sozinhos para a escola...), é como se o tempo tivesse parado e não existam perigos, ou então existem, mas cedo as crianças aprendem a defender-se.
O passeio faz-se a penantes já que o nosso "Bo-leia" fez se à estrada para as Rolas, e começamos no Bairro da Cooperação onde vivemos até ao Liceu Nacional.
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Saída da Escola (à volta dos doces) |
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Docinhos à porta da Escola :( |
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Hoje era o ultimo dia de aulas antes das férias |
Pelo caminho, os meninos acenam e vão gritando com animação "menina branca" para as 3. É muito fácil interagir com os Saotomenses, saindo do bulício dos mercados no centro, toda a gente se cumprimenta, sorri, diz ola e bom dia. Não resistimos ao desafio das meninas que à saída da Escola Preparatória Patrice Lumumba que vai do 5º ao 7º ano e ficámos à conversa com a Vanessa e mais 3 amigas sobre a escola e os nossos 2 países, que tinham tios e primos na Amadorra (sim porque aqui acentuam-se os R como em Setúbal) e que gostavam de ir a Lisboa. Juntou-se à conversa a Liliane, menina do liceu que vai ser advogada e estudar direito em Lisboa ou Londres. Um grupo de rapazes passa e quer juntar-se à conversa e dizemos-lhes que não, que era só conversa de raparigas e foram pregar para outra avenida.
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Vanessa e amigas |
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Liliane que vai ser advogada |
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Intercâmbio de sorrisos e de experiencias |
Continuando pela avenida, que ainda há muito caminho para andar, acompanha-nos o rio Agua Grande, curioso ao ler um documento de 1910 denominado Melhoramentos Públicos para a Ilha de São Tome pareceu-me ser tão actual" ...a agua ...junto à foz de um rio que vem atravessando terrenos palustres, onde fermentam muitos detrictos vegetais e animais, que recebe todas as imundices para ele transportado pelas aguas fluviais...". Ainda assim a vegetação resiste a tal poluição e rebenta nos sítios mais inesperados resultando numa paisagem bonita, o que nos pasma.
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Rio Água Grande |
Continuando pela marginal, aí vamos nós na direção do Liceu Nacional, edifício imponente do Estado Novo construído nos grandes planos de fomento das décadas de 40 a 70. Aproximam-se a Márcia e mais 3 amigas, estavam no intervalo do liceu e vieram sentar-se no varandim da marginal, privilegiadas, disse-lhes eu, terem a escola em frente ao mar. Perguntam a idade à Sara enquanto a miram de alto a baixo e mais uma vez admira-se com o aparelho da Laura, pedem para tirar fotografia com a menina do aparelho e a Sara junta-se ao grupo ( pedem que envie foto para o facebook, está bem respondo-lhes, escreve aí o teu nome pedi à Márcia, escreveu Beibe Dias).
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Beibe e Amigas |
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Mais um clique |
Ainda faço mais uns cliques do liceu, não é preciso grandes lentes para perceber a falta de manutencao do Liceu Nacional.
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A Sara nunca mais dirá mal da Escola Secundária Amélia Rey Colaço |
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À varanda do Liceu |
Chegando ao fim do liceu, penduradas num monumento com o escudo português, estão Terlícia Costa e as suas amigas. Atira-se à estrada e pede uma foto e diz à amiga mais tímida "já somos celebridades" e faz uma pose como vê nas revistas projetando os lábios para a frente. A amiga debruça-se na varanda sobre o mar e sorri para a câmara. Podemos ver a foto? Claro que sim e se quiseres mando-te para o mail. Quê? pergunta-me a Terlícia, mail não sei o que é, mas manda para o facebook. Mais um nome para o caderninho.
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"Somos celebridades" |
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Terlícia e a sua pose |
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Amiga da Terlícia |
Estas são as histórias felizes de algumas crianças e jovens de STP que têm a sorte de viver na cidade ou perto da cidade com escolas acessíveis, com pais mais sensibilizados e com possibilidades para tal. Pelo pouco que vi no interior de STP e Sul a vida é bem mais difícil...mas a história deste país melhora aos poucos e poucos e a educação é a base (ou não trabalhasse eu na área da educação).
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