sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

AS ESCOLAS, AS MENINAS E O FACEBOOK




Já referi neste blogue que crianças em STP são mato, aparecem em pequenos e grandes grupos fardadas de azul, porque andamos nas ruas da capital onde se concentram todos os níveis de ensino do Jardim de Infância a Universidade. Meninos pequeninos a partir dos 4/5 anos circulam de mão dada nas ruas, aos saltinhos no meio das poças da agua, da escola para casa. Aqui a hiperproteção que assistimos no mundo ocidental não existe (eu imagino o que acontece quando este povo emigra para Lisboa e percebe que os meninos já não vão sozinhos para a escola...), é como se o tempo tivesse parado e não existam perigos, ou então existem, mas cedo as crianças aprendem a defender-se. 
O passeio faz-se a penantes já que o nosso "Bo-leia" fez se à estrada para as Rolas, e começamos no Bairro da Cooperação onde vivemos até ao Liceu Nacional. 



Saída da Escola (à volta dos doces)
Docinhos à porta da Escola :(
Hoje era o ultimo dia de aulas antes das férias
Pelo caminho, os meninos acenam e vão gritando com animação "menina branca" para as 3. É muito fácil interagir com os Saotomenses, saindo do bulício dos mercados no centro, toda a gente se cumprimenta, sorri, diz ola e bom dia. Não resistimos ao desafio das meninas que à saída da Escola Preparatória Patrice Lumumba que vai do 5º ao 7º ano e ficámos à conversa com a Vanessa e mais 3 amigas sobre a escola e os nossos 2 países, que tinham tios e primos na Amadorra (sim porque aqui acentuam-se os R como em Setúbal) e que gostavam de ir a Lisboa. Juntou-se à conversa a Liliane, menina do liceu que vai ser advogada e estudar direito em Lisboa ou Londres. Um grupo de rapazes passa e quer juntar-se à conversa e dizemos-lhes que não, que era só conversa de raparigas e foram pregar para outra avenida.  
Vanessa e amigas
Liliane que vai ser advogada
Intercâmbio de sorrisos e de experiencias
Continuando pela avenida, que ainda há muito caminho para andar, acompanha-nos o rio Agua Grande, curioso ao ler um documento de 1910 denominado Melhoramentos Públicos para a Ilha de São Tome pareceu-me ser tão actual" ...a agua ...junto à foz de um rio que vem atravessando terrenos palustres, onde fermentam muitos detrictos vegetais e animais, que recebe todas as imundices para ele transportado pelas aguas fluviais...". Ainda assim a vegetação resiste a tal poluição e rebenta nos sítios mais inesperados resultando numa paisagem bonita, o que nos pasma. 
Rio Água Grande
Continuando pela marginal, aí vamos nós na direção do Liceu Nacional, edifício imponente do Estado Novo construído nos grandes planos de fomento das décadas de 40 a 70. Aproximam-se a Márcia e mais 3 amigas, estavam no intervalo do liceu  e vieram sentar-se no varandim da marginal, privilegiadas, disse-lhes eu, terem a escola em frente ao mar. Perguntam a idade à Sara enquanto a miram de alto a baixo e mais uma vez admira-se com o aparelho da Laura, pedem para tirar fotografia com a menina do aparelho e a Sara junta-se ao grupo ( pedem que envie foto para o facebook, está bem respondo-lhes, escreve aí o teu nome pedi à Márcia, escreveu Beibe Dias). 

Beibe e Amigas

Mais um clique
Ainda faço mais uns cliques do liceu, não é preciso grandes lentes para perceber a falta de manutencao do Liceu Nacional. 
A Sara nunca mais dirá mal da Escola Secundária Amélia Rey Colaço
À varanda do Liceu
Chegando ao fim do liceu, penduradas num monumento com o escudo português, estão Terlícia Costa e as suas amigas. Atira-se à estrada e pede uma foto e diz à amiga mais tímida "já somos celebridades" e faz uma pose como vê nas revistas projetando os lábios para a frente. A amiga debruça-se na varanda sobre o mar e sorri para a câmara. Podemos ver a foto? Claro que sim e se quiseres mando-te para o mail. Quê? pergunta-me a Terlícia, mail não sei o que é, mas manda para o facebook. Mais um nome para o caderninho.
"Somos celebridades"
Terlícia e a sua pose
Amiga da Terlícia

Estas são as histórias felizes de algumas crianças e jovens de STP que têm a sorte de viver na cidade ou perto da cidade com escolas acessíveis, com pais mais sensibilizados e com possibilidades para tal. Pelo pouco que vi no interior de STP e Sul a vida é bem mais difícil...mas a história deste país melhora aos poucos e poucos e a educação é a base (ou não trabalhasse eu na área da educação). 

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