terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A Escrava Isaura e as Roças de STP - I Parte



Quem cresceu na minha geração a ver as novelas da Escrava Isaura, nunca poderá ficar indiferente à visita a uma Roça. As roças de São Tomé têm a mesma inspiração das brasileiras já que os seus primeiros proprietários vieram de lá.




O estado de alma ao chegar às grandes Roças como a Roça Rio do Ouro, Diogo Vaz ou Agua Izé é de orgulho perdido, perante a grandiosidade dos edifícios construídos que agora após a nacionalização das Roças se encontram em total abandono. 

Neste post dedicarei o desenvolvimento à Roça Rio de Ouro (segunda maior da Ilha a seguir à Agua Izé) para fazer uma II Parte dedicada às Roças Diogo Vaz, Porto Alegre e Agua Izé.


Por vezes, tento imaginar o que seria uma roça a funcionar no inicio do sec. XX, o movimento destas unidades muito próximo a autenticas cidades: com escolas, creches, hospitais, capelas.


Nestas grandes, chegaram a trabalhar 2 a 3 mil serviçais ( distribuídos pelas várias construções). 
Em todas elas ainda conseguimos identificar, a casa da administração, as casas dos encarregados, as senzalas, o terreiro, armazéns e oficinas e ainda os cais de embarque para o escoamento do cacau e do café.




O mais impressionante é a escala, é tudo à grande


Imagem aérea da Roça Rio de Ouro (atual Agostinho Neto)
Atualmente estes edifícios na sua grande maioria estão entregues à sua sorte, nas janelas e portas das casas grandes vêem-se famílias, muitas ( dá ideia que em cada quarto vive uma família), o estado das roças é de degradação. 
Antiga senzala (construida na lateral da Roça), agora acrescentaram-lhe as barracas à frente

Antiga Casa da Administração, ocupada por muitas famílias
Tudo se faz com agua trazida do chafariz e a luz vem principalmente dos candeeiros a petróleo do tempo dos nossos avós. 
Casas dos encarregados das Roças, agora habitações multifamiliares


Não resisti a espreitar o que estaria por detrás destas casas e a vista destas varandas é impressionante.



Vista das varandas das Casas dos Encarregados
Outro sinal de que nas roças houve grande desenvolvimento são os vestígios das linhas de caminho de ferro já que em 1910 havia 250 km construídos , hoje em dia servem de poleiro às galinhas e muitos carris já foram arrancados quiçá para improvisar alguma geringonça.



Há muitas formas de fazer a leitura do que eram as Roças no período da colonizaçao, se por um lado STP vivia grande prosperidade aproveitando exaustivamente os recursos naturais da ilha mas também construindo as tais escolas e hospitais, por outro lado também nao fico indiferente às histórias da Elsa, natural de STP, que me contava que a avó era posta no tronco e ali ficava durante toda à noite porque se dava ao "luxo" de descansar...




Mais uma vez a visita as roças é feita com os pequenos guias, na Rio de Ouro atual Agostinho Neto, ao perguntar a um menino quem me podia ajudar na visita ele respondeu "EU" e assim foi, ele e mais 20.



À Porta do Palácio da Isabel dos Santos
Nesta Roça que fica a norte da capital e que ja foi a segunda maior do país é impressionante a avenida que liga em extremos opostos o Hospital e o Palácio.





O Palácio foi adquirido pela Unitel/ Isabel dos Santos, foi recuperado e neste momento serve a cerimónias como casamentos ou grandes receções.

Nao há grandes muros a separá- lo da população que por ali vive, mas basta um guarda para intimidar a criançada. Foi neste palácio que vimos o organograma da Roça e tivemos oportunidade de passear pelo jardim muito bem cuidado.





Aqui os nossos amigos à procura das tartarugas
 A curiosidade maior do Jardim é a planta " não me toque", já que basta tocar-lhe para ela murchar no segundo seguinte.


Ao fundo da avenida o hospital com uma dimensão que impressiona. Quem acompanhou a "evolução/degradação" desta Roça disse-me que após a independência roubaram todo o telhado do hospital, depois veio a Cooperação Portuguesa e tornaram a cobri-lo, depois veio a Cooperação Alemã, por fim  todos abandonaram o local (não sei porquê mas é triste).




O muito antes e o agora






Deixo-vos com a última imagem que tirei da Roça o Hospital que reflete o sentimento que senti de abandono e tristeza na visita à Roça, o tal orgulho perdido...


Fim da Parte I...continua

5 comentários:

  1. Pois é...
    a última foto de "Roças-parte I" diz do estado de espírito que provavelmente iremos sentir ao chegar ao fim.
    As roças são cartão de visita ou pelo menos visita obrigatória de turista ou de quem se interesse por algo mais do que coqueiros e praias ou resort's. Mas a melancolia estará sempre presente numa reportagem destas, para não usar outros substantivos que traduzam outros estados de alma mais...vigorosos. Acho que não é possível a visita asséptica preconizada no melhor guia turistico de STP...
    A sério: quase apetece não ir lá.
    Salut LSSF family!

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    1. Pois é vizinho mas vale muito a pena nem que seja para ver aquilo que nòs conhecemos dos cenarios das novelas!

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